by Legolas Greenleaf, in Besteria
Posted on March 20, 2020 at 10:53 PM
A besta (pronuncia-se bésta), balestra ou balesta é uma arma com aspecto semelhante ao de uma espingarda, com um arco de flechas adaptado a uma das extremidades de uma haste e acionado por um gatilho, o qual projeta virotes - dardos similares a flechas, porém mais curtos.
O conceito de um arco de flechas com haste de disparo horizontal deu origem a duas armas de guerra, a besta e a balista, sendo esta fixa no solo, muito maior e mais pesada. Besteiro é o nome dado a um soldado armado com uma besta.
Foi bastante usada no século XVI e chegou a coexistir com arcabuzes e mosquetes (as primeiras armas de fogo), sendo depois abandonada. Hoje, continua a ser fabricada para uso na caça esportiva. Alguns modelos sofisticados também são usados por forças especiais.
História
Acredita-se que a besta foi criada muito antes da era cristã pelos chineses. Desde o século III a.C., que a besta (nǔ, 弩) está totalmente desenvolvida e o seu uso difundido na China. Encontraram-se em Xi'an bestas entre os soldados do exército de terracota no túmulo do imperador Qin Shi Huangdi (260 a.C.-210 a.C.). Leonardo da Vinci chegou a desenhar a besta, porém não a fabricou.
Já havia registros desta arma na Roma Antiga antes e depois da era cristã, como arma de caça ou de guerra. Na Europa, também há vários registos, inclusive na Guerra dos Cem Anos onde os besteiros genoveses deram apoio à França contra a invasão da Inglaterra. Porém foi mal sucedida, pela fraca estratégia usada pelos franceses e pelo baixo número de guerreiros que utilizavam a arma. Nesta época, entre os séculos XIV e XVI, as bestas tinham um alcance considerável, cerca de 100 passos (entre 230 e 250 metros de distância), e pesavam entre cinco a sete quilogramas enquanto o arco longo inglês tinha um alcance entre 180 e 200 metros, o que dava vantagem à besta. Porém, ela tinha um intervalo muito grande entre os disparos: o besteiro tinha de colocar um novo quadradelo na haste, enrolar então a corda com uma alavanca que se encontrava na parte anterior da arma, até ao ponto certo para o novo tiro, o que, além de requerer muita força física, demorava cerca de dois a cinco minutos, tempo que não se tinha na guerra contra os arqueiros ingleses, apelidados de Arlequim, que significa demónio. Eles conseguiam atirar facilmente cerca de cinco flechas no curto espaço de vinte segundos; além disto, o besteiro estava sempre acompanhado de um segundo homem que carregava um pavês - escudo comprido feito de carvalho e salgueiro que era usado para defender o besteiro dos ataques de flechas inimigas nos momentos em que ele carregava a sua besta, o que era sempre feito atrás deste escudo. A besta tinha força suficiente para atravessar a maioria das armaduras da época, como cotas de malha e algumas armaduras leves de placas, a uma boa distância. Porém havia outras bestas chamadas leves, que não tinham o mesmo alcance e potência, sendo usadas principalmente na caça.
A besta é utilizada na guerra na Europa sobretudo desde a Batalha de Hastings, em 1066, e até por volta dos anos 1525, substituindo quase completamente os arcos curtos e longos de madeira em muitos exércitos europeus no século XII. Embora um arco longo alcance uma precisão comparável e um ritmo de tiro mais rápido do que um tiro médio de um besta de arco de madeira, ou de arco composto (um arco laminado construído de madeira, osso ou chifre, e tendões de animais), as bestas libertam mais energia cinética e pode ser utilizada de forma eficaz após uma semana de treino, enquanto a habilidade de um tiro comparável com um arco longo leva anos de treinamento de força, para superar o empate e a força do arco, bem como anos de prática necessária para o utilizar com habilidade.
A besta é citada num documento estipulando a aliança entre Génova e Alexandria, datado de 21 de fevereiro de 1181.
Durante o Segundo Concílio de Latrão, foi emanada uma disposição, mediante a qual foi severamente proibido o uso da besta entre adversários cristãos. Esta proibição foi ignorada por Ricardo Coração de Leão, que dotou os seus exércitos de infantaria, em 1198, infringindo, também, o breve (ato pontifício) de Inocêncio III, que apoiava as precedentes providências, definindo como micidial (mortífera) a arma em questão. O próprio Ricardo Coração de Leão morreu em 1199 após um ferimento recebido no braço direito, causado por um besteiro, quando explorava as muralhas do Castelo de Limoges, que estava sitiando.
Nos exércitos europeus, os besteiros montados e desmontados, misturados com os fundibulários, os lançadores de dardos e os arqueiros, ocupavam uma posição central em formações de batalha. Normalmente, eles atacavam antes dos cavaleiros. Os besteiros também eram importantes em contra-ataques para proteger a infantaria. Junto com as armas de haste feitas a partir de equipamentos agrícolas, a besta também era usada por camponeses rebeldes, como se mostrou na revolta dos Taboritas no século XV, uma comunidade religiosa na região da Boêmia, considerada herética pela Igreja Católica.
Os cavaleiros equipados com lanças provaram-se ineficazes contra formações de lanceiros, alabardeiros e piqueiros combinados com besteiros, cujas armas podiam penetrar a armadura da maioria dos cavaleiros. O desenvolvimento de mecanismos para rearmar permitiu o uso de bestas sobre o cavalo, levando ao surgimento de novas táticas de cavalaria.
Em 1630, o papa Urbano VIII proibiu o uso de bestas.
O uso da balestra ou besta pelos nativos do Novo Mundo foi atestado pelo padre João Daniel, que viajou pelo Maranhão e Grão-Pará, Brasil, entre 1741 e 1757:
Purus é uma nação que habita sobre os lagos do rio Purus, que dele tomou o nome.Também não usam de arcos-e-frechas, como os mais índios, mas todas as suas armas são a balesta, em que são destríssimos, e mais que insignes frecheiros .
Admitindo-se a veracidade da informação, é razoável supor que a arma tenha sido copiada das usadas pelos europeus. Mesmo assim ficam dúvidas porque esta arma apresenta um complicado mecanismo de gatilho, de fixação do arco no corpo da estrutura e de retenção da flecha quando o equipamento está armado.
Características
A besta é composta de um arco cujas lâminas são apoiadas num suporte de madeira, coronha, apoiando também a flecha. A coronha ajuda a reter a corda tensionada e a flecha, até o momento do disparo. Quando o disparador é acionado, o sistema de disparo libera a corda do arco. A besta permite a um atirador um disparo mais potente do que teria com um arco comum, uma vez que o seu tensionamento não depende da capacidade física do atirador.
As bestas são lentas a recarregar, o que limita o seu uso em batalhas de campo aberto. Em cercos, esta fator não é uma desvantagem significativa, já que os besteiros podem se esconder ao recarregar a arma.
Os projéteis eram dardos comuns ou flechas com pontas em ferro, incluindo setas incendiárias e envenenadas.
Variantes
A besta tinha diversas variações e tamanhos para os diferentes projéteis que podiam ser atirados, sendo os mais comuns as próprias flechas e o quadradelo de açoque continha uma ponta semelhante a uma pirâmide, que facilitava a entrada na carne ou armadura inimiga.
Besta de repetição
A besta chinesa tem uma variante a que foi chamada besta de repetição, que consistia em uma única arma poder lançar de cinco a dez projécteis de uma só vez, mas era uma arma para grandes exércitos, pois necessitava,no mínimo, dois homens para carregá-la e armá-la (um homem sentado no chão esticando a corda com os pés para o alto enquanto o segundo carregava e orientava para a execução do tiro). Era uma arma para grandes quantidades de tiros e muito útil contra exércitos, onde eram atiradas milhares de flechas no ar que caiam sobre o campo inimigo, que podia estar até 350 metros do tiro e, após a violência do ataque das bestas, podiam fazer os ataques por terra, já com os exércitos inimigos praticamente derrotados pelo imenso poder da rajada desta arma.
Uma variação da besta de repetição chinesa foi criada na Europa por volta do século XIII, consistia numa besta maior com cerca de quinze a 25 quilos que continha um encaixe para até sete quadradelos, que eram atirados com um pequeno intervalo de dez a quarenta segundos o que a tornava bastante eficaz. Porém ficou obsoleta logo em seguida devido ao peso e ao grande tamanho, que dificultava muito o transporte e uso da mesma, que demorava também de cinco a dez minutos para recarregar, tinha muitos defeitos mecânicos, emperrava muito facilmente, tinha um alcance muito pequeno, menos de trinta metros, necessitava de dois ou mais ajudantes para transportar, apontar, recarregar etc e pouca força contra as armaduras da época. Foi desconsiderada logo após a criação e como muitas armas, virou uma arma mais de decoração para ficar pendurada em paredes ou pequenas competições de tiro ao alvo não sendo uma arma para batalhas ou guerras pelo seu mau desempenho e dificuldade de uso e transporte.
A besta de repetição fez uma nova aparição no século XVII com a melhoria considerável da mecânica e dos ferreiros, porém foi novamente descartada pelo auge das armas de fogo que estavam bastante avançadas comparadas com as primeiras criadas, sendo novamente apenas produto de decoração ou competições e caça.
Outras variantes
No Arsenal de Veneza encontra-se exposto um exemplar de besta-garrucha.
A besta de gancho é assim definida por causa do gancho pendente do punho do besteiro. Com isso ele puxava a corda até conseguir esticá-la o quanto necessário. A besta gigante sobre rodas foi um projeto de Leonardo da Vinci que nao chegou a ser realizado.
A besta gigante era um desenho de tanque de guerra futurista, só que usava como munições flechas ou similares.
As bestas manuais ou portáteis, que eram carregadas e manejadas por um só homem, a pé ou a cavalo, distinguiam-se das "pesadas", que eram postas sobre bancos ou cavaletes, para a defesa das muralhas, ou para serem usadas nos campos de batalha.
Na cultura popular
Guilherme Tell, herói lendário da Suíça, para se livrar da prisão, teria tido que atirar uma flecha numa maçã colocada sobre a cabeça do próprio filho. Esta teria sido uma ordália, ou prova divina de sua inocência (caso acertasse) ou culpa (se errasse), no conceito do direito medieval europeu.
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